Paredes de Giz

Um manifesto a giz nos muros da blogosfera

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Escuro...

Disseste que ele era escuro... Que estranhavas, que não tinha nada a ver comigo... Apenas respondo que é uma coisa intelectual. Não platónica, como as paixões que certa e determinada pessoa desenvolvia na adolescência.

Gosto que seja diferente, que saiba tanto sobre coisas sobre as quais não sei coisa alguma... É estúpido e infantil - mas tão típico da minha pessoa... E dessa admiração, nasce uma atracção, comparável àquela que em adolescentes nutríamos por pop stars (ou no meu caso pelo Jacques Villeneuve...).

E gosto que ele seja diferente de outros. De outro. Porque isso, de alguma maneira, ajuda-me a arrumar o passado.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Coisas que nunca mudam...

Ontem, como sempre, tinhas razão... Hoje, como sempre, tens razão... Há quase quinze anos que de cabeça quente, a razão me abandona e estrebucho (oh verbo lindo...) para todos os lados. Tinhas razão qundo dizias que um aborto não é NUNCA uma decisão fácil, tens razão quando me dizes que nada é tão complicado como parece.

Não é a primeira vez, nem será, de certeza, a última, que a tua voz calma me chama à razão. Por isso estou tão contente com este blog: é mais uma dimensão de uma coisa que é tão importante para mim... E apesar de ter de ser eu a dar a mão a palmatória (és muuuuiiiitttttoooooo teimosa, mas muitas vezes tens razão....), nesta altura em que a minha vida é uma cambalhota no ar, é bom saber que há coisas que nunca mudam...

Obrigada...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

O Milagre

Aproveitando a celebração do segundo mês de vida da Madalena, resolvo reflectir sobre a Vida. Com letra maiúscula, porque não estou a falar da vida corriqueira do dia-a-dia, estou a falar da Vida enquanto valor. Em 1998 houve um referendo sobre a despenalização do aborto. Não votei (embora já tivesse cartão de eleitor, não tinha ainda feito os 18 anos), mas defendi e continuo a defender o sim à despenalização. Com algumas reservas.

Falo hoje num tom mais amargo do que aquele que habitualmente uso quando falo destes assuntos. Acontece que, por variadíssimos motivos de ordem pessoal que não vou aqui expor, considero agora que esta é uma área bem mais cinzenta do que achava há sete anos atrás.

Aqueles que defendem activamente a despenalização do aborto (entre os quais se encontrava a minha pessoa até há coisa de uns dias) têm por adquirido que esta é uma escolha sempre dolorosa para uma mulher. Que nenhuma mulher recorre à interrupção voluntária da gravidez de ânimo leve. Sempre acreditei nisto (e quero acreditar que, de facto, é assim para a maioria das mulheres). Mas a vida (aqui e sempre com letra pequena), fez questão de me pôr de frente com uma situação que contradiz a um nível quase absurdo a minha crença.

Há, na verdade, uma espécie de mulheres para quem o aborto é uma decisão leve, que alivia a vida (de novo com minúscula...), sem deixar peso na alma. Aquelas que vivem centradas no seu umbigo, a quem este ser atrapalharia a imagem de perfeitas, de invencíveis. Aquelas que brincam com o fogo e não têm coragem de assumir as suas responsabilidades. Aquelas que reunem todas as condições para acolher uma criança, económicas, familiares. Mas falta-lhes Amor. Essa capacidade inata de amar o próximo e, acima de tudo, o ser por nós gerado.

Continuo a defender a despenalização do aborto. Mas com outros argumentos. Porque há de facto mulheres que a ele recorrem em desespero, porque não têm outra saída, porque não têm condições.

O Egoísmo não é crime. Mas, para mim, devia ser...

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

O Primeiro Dia

A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

Sérgio Godinho

De novo

De novo voltamos a dizer de nossa justiça. Já não é a gis, nem nas paredes do liceu. Os Oasis já não são a inspiração. Tudo muda. E tudo fica na mesma...