A Gargalhada
Passei pelo largo. Entre meia dúzia de árvores cujo nome desconheço, estava a palmeira. Houve um dia em que o vento quase fez com que as folhas tocassem no chão. Chuvia e o vento estava tão forte que sentia os meus pés a deslizarem na calçada molhada. Vínhamos do Liceu e já tínhamos desistido dos chapéus-de-chuva, que nada podiam contra a tempestade. O nosso objectivo: chegar ao café. Parecia-nos tão quente e acolhedor. Parecia seguro e a rua deixara de o ser. Subitamente uma rajada mais forte levou o gorro. Nós corremos para o café. Ela parou e depois começou, desesperadamente, à procura do gorro de lã, que no frenesim de vento tinha desaparecido. Lembro-me do alívio quando entrei no café. E de olhar pela montra e vê-la em busca do barrete que a avó lhe fizera. E lembro-me da gargalhada a nascer, no alívio, na cara molhada e no quente do nosso abrigo improvisado. E ela lá fora procurava. Debaixo dos carros, nos bancos do passeio. E então o riso venceu. E três bruxinhas sucumbiram àquela enorme gargalhada, enquanto lá fora a amiga, sózinha, desesperava. Vieram-nos lágrimas aos olhos e só parámos quando ela se juntou a nós. Chateada, porque não recuperara o gorro. Chateada porque nos tínhamos rido.
Ainda hoje não consigo dizer onde estava a graça da situação. Mas quando vi a palmeira, senti aquela garalhada a querer nascer de novo.
Desculpa lá, Sara.
Ainda hoje não consigo dizer onde estava a graça da situação. Mas quando vi a palmeira, senti aquela garalhada a querer nascer de novo.
Desculpa lá, Sara.